terça-feira, 29 de novembro de 2011





- E se a gente se afastar um dia? O amor acabar? Minha vida não se encaixar mais na tua... Se nossa história terminar, sem final feliz?
- Mesmo que isso aconteça, eu vou poder olhar pra trás e ver você lá, guardada no meu abraço e sorrindo pra mim com esse seu sorriso com cara de promessa de felicidade eterna. E meu coração vai sorrir junto só de lembrar todo o bem que você me fez...

Karla Tabalipa



Tão mais fácil permanecer no que, aparentemente, já deu certo. Menos complicado continuar ao lado de alguém que já conhecemos as manias, acostumamos com os defeitos, e reconhecemos algumas qualidades! Aceitar um pouco de amor, por medo de amar demais!Tão mais simples se acomodar com uma relação morna do que acreditar em amor intenso, conto de fadas, e borboletas no estômago.
Quando falo de amor de verdade, não falo de brigas intensas, com reconciliações mais intensas ainda! Falo de poder dizer “eu te amo” olhando nos olhos, e sentir o coração concordar plenamente! De abraçar e não querer mais largar, e ficar ao lado em silêncio e ainda sim se sentir feliz! Falo de aguentar dias longe, por saber que um dia perto vai fazer valer à pena!
Daquela paz que a gente sente quando ouve os pássaros cantando e a chuva caindo lá fora.
E lembrar de alguém com uma saudade tranquila, e poder sorrir quando pensamos nos últimos momentos juntos! Falo de crescer, e ainda sim querer muito acreditar em “felizes para sempre”.


Karla Tabalipa

segunda-feira, 28 de novembro de 2011




Não há nenhuma pretensão quando eu digo que pra me revirar do avesso tem quer ser homem. Tem que ser o meu homem.
Erica de Paula

sábado, 26 de novembro de 2011




‎"Eu sou desse tipo de gente que sente tudo misturado. Colcha de retalhos remendada pela linha do tempo, unindo loucura e dor, ciúmes e amor, poema e saudade. Agasalho aquecido pela intensidade, enfeitado de bobagens. Os superiores não entendem desse tipo de "trapo" costurado ... E por esses grandiosos desabrigados eu apenas - sinto muito."

Renata Fagundes

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Desabafo.


As pessoas falam: “as coisas as coisas sempre podem ficar piores, ou mais difíceis”, (e se fosse tirar pelas coisas que vivo, diria que essa frase foi feita pra mim) e cabe a cada um aguentar o tranco e erguer a cabeça sem desanimar, as coisas e os problemas estão sim ficando mais difíceis e complexos, mais não são impossíveis! A única coisa impossível aqui, é levar a sério aquele pensamento instantâneo “DESISTE". Nunca fui muito de lutar, pelo menos não como aqueles guerreiros medievais, minha luta sempre é morna e devagar, mais nunca desisti antes de levar muito porrada da vida. Não sei de onde Deus tirou que eu aguento tanta coisa, mais se ele acha que sim, quem sou eu pra duvidar. Mais vale um pouco de choro, um pouco de desespero, um pouco de eu não sou capaz... Vale um pouco de insegurança, o que não vale nesse jogo da vida é perder a fé e a confiança em si mesmo( é, eu sei disso). Mais na verdade acho que nasci na época errada, talvez no romantismo, eu teria me saído melhor. Eu não fui feita pra agüentar os trancos da vida. Já pensei que fui feita pra ser feliz, pra ser psicóloga, atriz, cantora, médica, e até para as palavras, mais a vida me mostrou que eu não fui feita pra nada disso.Pra que eu fui feita? Venho tentando me responder isso todos os dias à 18 anos.

Gleyde Araújo

terça-feira, 22 de novembro de 2011




Ando com uma vontade tão grande de receber todos os afetos, todos os carinhos, todas as atenções. Quero colo, quero beijo, quero cafuné, abraço apertado, mensagem na madrugada, quero flores, quero doces, quero música, vento, cheiros, quero parar de me doar e começar a receber. Sabe, eu acho que não sei fechar ciclos, colocar pontos finais. Comigo são sempre vírgulas, aspas, reticências. Eu vou gostando, eu vou cuidando, eu vou desculpando, eu vou superando, eu vou compreendendo, eu vou relevando, eu vou… e continuo indo, assim, desse jeito, sem virar páginas, sem colocar pontos. E vou dando muito de mim, e aceitando o pouquinho que os outros tem para me dar."

Caio F.

O amor como ele é.




“É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado.
É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. A coerência. O rebolado.
Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele seja.
Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, do nosso faz-de-conta, para caminhar humanamente ao seu encontro.
Difícil é amar quem não está se amando. Quem está na sargeta. Quem não está merecendo…
Mas esse talvez seja, sim, o tempo em que o outro mais precisa se sentir amado. Eu não acredito na existência de botões, alavancas, recursos afins, que façam as dores mais abissais desaparecerem, nos tempos mais devastadores, por pura mágica. Mas eu acredito na fé, na vontade essencial de transformação, no gesto aliado à vontade, e, especialmente, no amor que recebemos, nas temporadas difíceis, de quem não desiste da gente”

Ana Jácomo

Sereníssima




Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece.
Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas.
Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades.
Tínhamos a idéia, mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.
Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.
Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho mas
Não vou brigar por causa disso
Até penso duas vezes se você quiser ficar.
Minha laranjeira verde, por que está tão prateada?
Foi da lua dessa noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.

Legião Urbana


Ô pequena, acalma esse teu coração que sofre por amar um tanto demais. Que culpa se tem dessas armadilhas que preparam pra gente? Suspira, suspira outra vez e conta até três. Conta estrelas, anda a favor do vento, pra ver os cabelos dançando no teu rosto triste. Deixa o mar te fazer cócegas nos pés e aprende que o agridoce da dor nunca dura pra sempre. Fica tudo enjoativo, tão enjoativo que se acostuma. Sorria, pequena. Pra ti, por ti, pro mundo. Pra que desfazer aquilo que hoje te faz a essência. Deixa florir, apesar de. Uma hora é outono outra vez e tudo isso se desfaz com um sopro. Serão só flores secas no chão.

De Eduardo Monteiro para Mírian Clara Benicá

De qualquer maneira.




”(…) Ou me quer e vem, ou não me quer e não vem. Mas me diga logo para que eu possa desocupar o coração. Avisei que não dou mais nenhum sinal de vida. E não darei. Não é mais possível. Não vou me alimentar de ilusões. Prefiro reconhecer com o máximo de tranquilidade possível do que ficar à mercê de visitas adiadas, encontros transferidos. No plano REAL: que história é essa? No que depende de mim, estou disposto & aberto. Perguntei a ele como se sentia. Que me dissesse. Que eu tomaria o silêncio como um não e que também ficaria em silêncio. (…)Anyway, me dói a possibilidade de um não, me dói a possibilidade de um silêncio, me dói não saber de que forma chegar a ele, sacudi-lo dizer me olha, me encara, vamos ou não vamos nessa? (…)"

Caio Fernando Abreu.

Uma compra.




A verdade é que o amor é um sentimento muito caro. Ele esta envolvido diretamente ou indiretamente em tudo, é só parar e observar.
É uma grande compra a prazo. No começo nos fornece aquela grande felicidade, mas as vezes acaba pagando isso com a dor, e no final o sofrimento vem maior.
O amor não pode ser arrancado, ou "comprado" ele tem que ser dado.
Tem que ser dado como um presente, mas não como um presente de aniversário ou natal. Mas, como um presente que recebemos num dia qualquer, assim, quando menos esperamos. Só para ficarmos felizes.
A verdade é que o amor não deveria ser uma soberba, um leilão ou um negócio.

Luara Quaresma

Espera...



Eu sinceramente não tenho vocação nem espirito para esperar, e se não for extremamente necessário, eu não espero! Em direção contrária a essa minha agonia, vem a mania de chegar mais cedo ou mais tarde, mais nunca na hora certa! Mas de repente, vem em mim a sensação de que eu estou esperando algo ou alguém, e parece que faz muito tempo! Até chegar na hora certa eu estou chegando, não deixo ninguém esperar, mas fico lá, esperando, algo que eu não sei se vai chegar, algo que eu nem sei o que é, mas que meu coração insiste em esperar!
Eu sinto falta de algo aqui, perto de mim, braços me envolvendo, sorrisos me consolando, mas em todas as direções, lugares e rostos que eu vejo ao meu redor, eu não encontro tudo isso que está fazendo falta aqui.
Já me disseram que é amor, paixão e até mesmo fogo de palha, mas eu acredito que seja esperança, de encontrar um outro alguém que me complete, como só uma pessoa me completou um dia!

Mírian Clara Benicá



Te esperei por tanto tempo menino. É. Te esperei há tantos anos e quando você enfim chega não pode ser meu por completo. Acho que devia ter corrido atrás de você. Mas como eu saberia onde te encontrar? Eu nem te conhecia. Minto com isso. Você habitava meus sonhos. Mas eu não saberia que direção tomar. Será que se eu girasse o mundo a esmo eu talvez topasse com você em alguma esquina? Será que hoje eu te teria inteiro? Será menino, que você seria meu se eu estivesse no lugar certo há alguns anos atrás? Nós daríamos tão certo (errado) sem nossa bagagem de dores? E eu saberia te amar como você merece? Ah menino, é tanta vontade de te ter só pra mim. É tanta bobagem pra um coração só. Tanto medo. E sou tão pouca, tão pequena. Não sei onde isso vai me (nos) levar. E não gosto da idéia de encontrar, como você diz, alguém que me ame mais que você. Já foi dificil te encontrar. Não viu quantas voltas tivemos que dar? Não sai daqui agora, ainda não. Preciso de mais um pouco de você. Mais uma dose desse seu doce-ácido amor... E me promete, mais uma vez, que eu não vou te perder. Cansei de perder pessoas, você sabe bem. Promete pra mim, assim como eu te prometi que eu não ia te machucar no final. Deixa um pouco dessa esperança doce em mim. Deixa a tua lembrança ácida. Se deixa por aqui menino, onde você deveria estar faz tempo.

Mírian Clara Beníca




"- O que é que se consegue quando se fica feliz? sua voz era uma seta clara e fina. A professora olhou para Joana.
- Repita a pergunta...?
Silêncio. A professora sorriu arrumando os livros.
- Pergunte de novo, Joana, eu é que não ouvi.
- Queria saber: depois que se é feliz o que acontece? O que vem depois? - repetiu a menina com obstinação.
A mulher encarava-a com surpresa.
- Que idéia! Acho que não sei o que você quer dizer, que idéia! Faça a mesma pergunta com outras palavras...
- Ser feliz é para se conseguir o quê?"

Clarice Lispector

domingo, 20 de novembro de 2011

Eu te amo não diz tudo.




O cara diz que te ama, então tá. Ele te ama. Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado. Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas mágicas. Mas saber-se amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença de milhas, um espaço enorme para a angústia instalar-se. A demonstração de amor requer mais do que beijos, sexo e verbalização, apesar de não sonharmos com outra coisa: se o cara beija, transa e diz que me ama, tenha a santa paciência, vou querer que ele faça pacto de sangue também? Pactos. Acho que é isso. Não de sangue nem de nada que se possa ver e tocar. É um pacto silencioso que tem a força de manter as coisas enraizadas, um pacto de eternidade, mesmo que o destino um dia venha a dividir o caminho dos dois. Sentir-se amado é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando certo, que sugere caminhos para melhorar, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma sacudida em você, caso você esteja delirando. "Não seja tão severa consigo mesma, relaxe um pouco. Vou te trazer um cálice de vinho". Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou dois anos atrás, é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você está fazendo uma tempestade em copo d´água. "Lembra que quando eu passei por isso você disse que eu estava dramatizando? Então, chegou sua vez de simplificar as coisas. Vem aqui, tira este sapato." Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a mágoa em munição na hora da discussão. Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente bem-vindo, que se sente inteiro. Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que não existe assunto proibido, que tudo pode ser dito e compreendido. Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem inventar um personagem para a relação, pois personagem nenhum se sustenta muito tempo. Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas fala; quem não concorda, mas escuta. Agora sente-se e escute: eu te amo não diz tudo.

Martha Medeiros

Mais uma de amor




Que algumas pessoas não acreditem que o homem esteve mesmo na lua, dá até pra entender, mas tem gente que não acredita em amor, e isso é imperdoável. Podemos não acreditar no que nossos olhos vêem, mas não podemos desacreditar no que sentimos. Você já ficou com a boca seca diante de uma pessoa? Já teve receio de ela estar ouvindo as batidas do seu coração? Bem, isso tudo não é prova de amor, apenas de ansiedade. Amor é outra coisa.

Amor é quando você acha que a pessoa com quem você se relacionava era egoísta, possessiva e infantilóide e isso não reduz em nada a sua saudade, não impede que a coisa que você mais gostaria neste instante é de estar tocando os cabelos daquela egoísta, possessiva e infantilóide.

Amor é quando você não compreende direito algumas coisas, mesmo tendo o QI mais elevado da turma, mesmo dominando o pensamento de Sócrates, Plutão e Nietzche. Perguntas simples ficam sem resposta, como por exemplo: como é que eu, sendo tão boa gente, tão honesto e com um coração tão grande, não consigo fazê-la perceber que ela seria a pessoa mais feliz do mundo ao meu lado?

Amor é quando você passa dias sem ver quem você ama, depois passam-se meses, e aí você conhece outra pessoa e passam-se décadas, e você já nem lembra mais do passado, e um dia qualquer de um ano qualquer você se olha no espelho e pensa: como é que eu consegui enganar a mim mesmo durante todo esse tempo?

Amor é quando você sente que seria capaz de amarrar o cadarço de um tênis com uma única mão ou de fazer a chuva parar só com a força do pensamento caso a pessoa que você ama lhe mandasse um sim deste tamanho.

Amor é quando você sabe tintim por tintim as razões que impedem o seu relacionamento de dar certo, é quando você tem certeza de que seriam muito infelizes juntos, é quando você não tem a menor esperança de um milagre acontecer, e essa sensatez toda não impede de fazê-lo chorar escondido quando ouve uma música careta que lembra os seus 14 anos, quando você acreditava em milagres.

Tudo isso pode parecer uma grande dor, mas é uma grande dádiva, porque a existência do amor está toda hora sendo lembrada. Dor é quando a gente está numa relação tão fácil, tão automática, tão prática e funcional que a gente até esquece que também é amor.

Martha Medeiros

Aviso.




Eu sou assim , eu vou sumir quando você menos esperar , eu vou surtar com você , vou querer que você sinta medo, orgulho , paixão , tesão , fome de mim . Eu vou ter as vontades mais loucas , eu vou sentir inveja até da sua sombra por estar perto de você de dia , e do seu travesseiro por estar com você a noite . Eu vou aparecer só pra você me perceber , eu vou sumir e aparecer milhões de vezes pra você me notar . Eu vou ter sede da sua atenção , eu vou querer seu " mais eu te amo " quando eu disser " eu te odeio , e não quero mais te vê por aqui " , eu vou querer um beijo roubado no meio daquela briga , eu vou querer seus elogios quando o espelho estiver de mal comigo , eu vou querer sua sinceridade quando for necessário , e a sua doce mentira quando minha vaidade precisar , eu vou querer surpresas no meio do dia , ligações inesperadas , eu voou respirar você , eu vou amar você...
E aí vai querer mesmo cruzar meu caminho?


Tati Bernardi

Mais uma vez



Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.
Tem gente que está do mesmo lado que você
Mas deveria estar do lado de lá
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Tem gente enganando a gente
Veja a nossa vida como está
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!
Mas é claro que o sol vai voltar amanhã
Mais uma vez, eu sei
Escuridão já vi pior, de endoidecer gente sã
Espera que o sol já vem.
Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena
Acreditar no sonho que se tem
Ou que seus planos nunca vão dar certo
Ou que você nunca vai ser alguém
Tem gente que machuca os outros
Tem gente que não sabe amar
Mas eu sei que um dia a gente aprende
Se você quiser alguém em quem confiar
Confie em si mesmo
Quem acredita sempre alcança!

Renato Russo


*Minha vida sempre foi descrita em momentos, e para minha tristeza essa música descreve claramente o que venho sentindo, eu que sempre fui uma eterna inconstância, hoje me sinto constante. As coisas não pioram nem melhoram, elas simplesmente esperam por coisas que não acontecem. É como estar atolado, e não ter ninguém pra te tirar de lá, e não ter ninguém pra te estender a mão. Sim, tem uma pessoa la na frente, olhando pra ti, mais você não tem força pra ir até ela, porque por mais que voce tente suas forças nunca são o suficiente , então você espera por um passo, por um gesto, por uma palavra mas a única coisa que voce ouve é o grito silencioso, de quem não tem nada a te oferecer.
Em vão?

Gleyde Araújo

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Nartueza Viva.




E desejá-lo assim, com todos os lugares-comuns do desejo, a esse outro tão íntimo que às vezes julgas desnecessário dizer alguma coisa, porque enganado supões que tu e ele vezenquando sejam um só, te encherá o corpo de uma força nova, como se uma poderosa energia brotasse de algum centro longínquo, há muito adormecido, todas as princesas de todos os contos de fadas desfilam por tua cabeça, quem sabe dessa luz oculta, e é então que sentes claramente que ele não é tu e que tu não serás ele, esse ser, o outro, que mágico ou demoníaco, deliberado ou casual te inflama assim de tolos ardores juvenis, alucinando tua alma, que o delírio é tanto que até supões ter uma. Queres pedir a ele que simplesmente sendo, te mantenha nesse atormentado estado brilhante para que possas iluminá-lo também com teu toque… Mas ele nada sabe, nem saberá se permanecerás assim, temeroso de que uma palavra ou gesto desastrados seriam capazes de rasgar em pedaços essa trama onde te enleias cada vez mais sem remédio, emaranhado em ti e tuas ciladas, em tua viva emoção sintética a ponto de parecer real…

Muito mais que com amor ou qualquer outra forma tortuosa de paixão, será surpreso que o olharás agora, porque ele nada sabe de seu poder sobre ti, e neste exato momento poderias escolher entre torná-lo ciente de que dependas dele para que te ilumines ou escureças assim, intensamente, ou quem sabe orgulhoso negar-lhe o conhecimento desse estranho poder…

Ah, fumarás demais, beberás em excesso, aborrecerás todos os amigos com tuas histórias desesperadas, noites e noites a fio permanerás insone, a fantasia desenfreada e o sexo em brasa, dormirás dias adentro, noites afora, faltarás ao trabalho, escreverás cartas que não serão enviadas, consultarás búzios, números, cartas e astros, pensarás em fugas e suicídios em cada minuto de cada novo dia, chorarás desamparada atravessando madrugadas em tua cama vazia, não conseguirás sorrir nem caminhar alheio pelas ruas sem descobrires em algum jeito alheio o jeito exato dele, em alguma cheiro estranho o cheiro preciso dele.

Que não suspeitará da tua perdição, mergulhado como agora, a teu lado, na contemplação dessa paisagem interna onde não sabes sequer que lugar ocupas, e nem mesmo se estás nela… Mas sabes principalmente, com uma certa misericórdia doce por ti, por todos, que tudo passará um dia, quem sabe tão de repente quanto veio, ou lentamente, não importa. Por trás de todos os artifícios, só não saberás nunca que neste exato momento tens a beleza insuportável da coisa inteiramente viva. Como um trapezista que só repara na ausência da rede após o salto lançado, acendes o abajur no canto da sala depois de apagar a luz mais forte no alto. E finalmente começas a falar.
Caio F.

UMA QUESTÃO DE ESCOLHA.



O coração anda no compasso que pode. Amores não sabem esperar o dia amanhecer. O exemplo é simples. O filho que chora tem a certeza de que a mãe velará seu sono. A vida é pequena, mas tão grande nestes espaços que aos cuidados pertencem. Joelhos esfolados são representações das dores do mundo. A mãe sabe disso. O filho, não. Aprenderá mais tarde, quando pela força do tempo que nos leva, ele precisará cuidar dos joelhos dos seus pequenos. O ciclo da história nos direciona para que não nos percamos das funções. São as regras da vida. E o melhor é obedecê-las.
Tenho pensado muito no valor dos pequenos gestos e suas repercussões. Não há mágica que possa nos salvar do absurdo. O jeito é descobrir esta migalha de vida que sob as realidades insiste em permanecer. São exercícios simples...
Retire a poeira de um móvel e o mundo ficará mais limpo por causa de você. É sensato pensar assim. Destrua o poder de uma calúnia, vedando a boca que tem ânsia de dizer o que a cabeça ainda não sabe, e alguém deixará de sofrer por causa de seu silêncio.
Nestas estradas de tantos rostos desconhecidos é sempre bom que deixemos um espaço reservado para a calma. Preconceitos são filhos de nossos olhares apressados. O melhor é ir devagar.
Que cada um cuide do que vê. Que cada um cuide do que diz. A razão é simples: o Reino de Deus pode começar ou terminar, na palavra que que escolhemos dizer.
É simples...
Padre Fábio de Melo

Fique.




E tão mais fácil seria eu não te ter por perto. É tão óbvio, eu sei que tu já notastes isso, já viu como eu seria livre, leve, simples. Tudo que não sou do seu lado. Me encontro aqui tão dependente dos seus carinhos, do seu calor. Estou presa a ti, a esse pequeno sonho, a esse mar de problemas, mas o que seja. Me agrada de um modo estranho estar presa a esse nosso segredo, porque sei que se me libertar terei que te deixar. E eu não quero. Por Deus. Não quero ficar sem você. Toda a minha independência e desejo de uma liberdade utópica foram consumidos nos teus beijos, derreteram por completo nos nossos corpos quentes, unidos. E não posso mais simplesmente te deixar ir. Não quero mais que você me deixe. Não ouso mais te dizer ‘já deu a hora, vá embora’. Não quero que tu obedeças a quase nada que digo, só escute a parte em que eu peço ‘fique’.

Mírian Clara Benicá

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

O que importa?



Não se concentre tanto nas minhas variações de humor, apenas insista em mim. Se eu calar, me encha de palavras, me faça querer dizer outra e outra vez sobre você, sobre nós, e todo esse amor. Se eu chorar, não me faça muitas perguntas, não precisa nem secar minhas lágrimas. Só me diz que você continuará comigo pra tudo, que tenho teu colo e teu carinho. E ainda que te doa me ver assim, me envolva nos teus braços e diga que eu posso chorar, mas que você não sairá dali enquanto eu não sorrir. Porque é isso que nos importa, não é? O sorriso um do outro.

Caio Fernando Abreu

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Inteira.




"Sou apático ao comodismo e adepto a transformações, me canso fácil do que não me agrega. Tenho por hábito olhar para o céu, todos os dias. Se não me encaixo, me adapto. Observei que com amor não se brinca, mesmo sendo, o próprio amor, uma grande brincadeira. Eu condeno pouco amor, pouco afeto, pouco afago. Falando de amor, prefiro sim, os excessos e os extremos. Não sei dar pouco, portanto, não me peça somente uma metade.Só aprendi a ser assim, inteiro"

Erick Tozzo

domingo, 6 de novembro de 2011

Canção dos homens



Que quando chego do trabalho ela largue por um instante o que estiver fazendo
- filho, panela ou computador - e venha me dar um beijo como os de antigamente.
Que quando nos sentarmos à mesa para jantar
ela não desfie a ladainha dos seus dissabores domésticos.
E se for uma profissional, que divida comigo o tempo de comentarmos nosso dia.
Que se estou cansado demais para fazer amor,
ela não ironize nem diga que "até que durou muito" o meu desejo ou potência.
Que quando quero fazer amor ela não se recuse demasiadas vezes, nem fique impaciente ou rígida, mas cálida como foi anos atrás.
Que não tire nosso bebê dos meus braços dizendo que homem não tem jeito pra isso, ou que não sei segurar a cabecinha dele, mas me ensine docemente se eu não souber.
Que ela nunca se interponha entre mim e as crianças, mas sirva de ponte entre nós quando me distancio ou me distraio demais.
Que ela não me humilhe porque estou ficando calvo ou barrigudo, nem comente nossas intimidades com as amigas, como tantas mulheres fazem.
Que quando conto uma piada para ela ou na frente de outros, ela não faça um gesto de enfado dizendo "Essa você já me contou umas mil vezes".
Que ela consiga perceber quando estou preocupado com trabalho, e seja calmamente carinhosa, sem me pressionar para relatar tudo, nem suspeitar de que já não gosto dela.
Que quando preciso ficar um pouco quieto ela não insista o tempo todo para que eu fale ou a escute, como se silêncio fosse falta de amor.
Que quando estou com pouco dinheiro ela não me acuse de ter desperdiçado com bobagens em lugar de prover minha família.
Que quando eu saio para o trabalho de manhã ela se despeça com alegria, sabendo que mesmo de longe eu continuo pensando nela.
Que quando estou trabalhando ela não telefone a toda hora para cobrar alguma coisa que esqueci de fazer ou não tive tempo.
Que não se insinue com minha secretária ou colega para descobrir se tenho amante.
Que com ela eu também possa ter momentos de fraqueza e de ternura, me desarmar, me desnudar de alma, sem medo de ser criticado ou censurado: que ela seja minha parceira, não minha dependente nem meu juiz.
Que cuide um pouco de mim como minha mulher, mas não como se eu fosse uma criança tola e ela a mãe, a mãe onipotente, que não me transforme em filho.
Que mesmo com o tempo, os trabalhos, os sofrimentos e o peso do cotidiano, ela não perca o jeito terno e divertido que tanto me encantou quando a vi pela primeira vez.
Que eu não sinta que me tornei desinteressante ou banal para ela, como se só os filhos e as vizinhas merecessem sua atenção e alegria.
E que se erro, falho, esqueço, me distancio, me fecho demais, ou a machuco consciente ou inconscientemente,
Ela saiba me chamar de volta com aquela ternura que só nela eu descobri, e desejei que não se perdesse nunca, mas me contagiasse e me tornasse mais feliz, menos solitário, e muito mais humano.

Lya Luft

Canção das mulheres




Que o outro saiba quando estou com medo, e me tome nos braços sem fazer perguntas demais.
Que o outro note quando preciso de silêncio e não vá embora batendo a porta, mas entenda que não o amarei menos porque estou quieta.
Que o outro aceite que me preocupo com ele e não se irrite com minha solicitude, e se ela for excessiva saiba me dizer isso com delicadeza ou bom humor.
Que o outro perceba minha fragilidade e não ria de mim, nem se aproveite disso.
Que se eu faço uma bobagem o outro goste um pouco mais de mim, porque também preciso poder fazer tolices tantas vezes.
Que se estou apenas cansada o outro não pense logo que estou nervosa, ou doente, ou agressiva, nem diga que reclamo demais.
Que o outro sinta quanto me dóia idéia da perda, e ouse ficar comigo um pouco - em lugar de voltar logo à sua vida.
Que se estou numa fase ruim o outro seja meu cúmplice, mas sem fazer alarde nem dizendo ''Olha que estou tendo muita paciência com você!''
Que quando sem querer eu digo uma coisa bem inadequada diante de mais pessoas, o outro não me exponha nem me ridicularize.
Que se eventualmente perco a paciência, perco a graça e perco a compostura, o outro ainda assim me ache linda e me admire.
Que o outro não me considere sempre disponível, sempre necessariamente compreensiva, mas me aceite quando não estou podendo ser nada disso.
Que, finalmente, o outro entenda que mesmo se às vezes me esforço, não sou, nem devo ser, a mulher-maravilha, mas apenas uma pessoa: vulnerável e forte, incapaz e gloriosa, assustada e audaciosa - uma mulher.
Lya Luft

O abraço




Meu Deus! Como é engraçado!
Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço... uma fita dando voltas.
Enrosca-se, mas não se embola, vira, revira, circula e pronto: está dado o
laço. É assim que é o abraço: coração com coração, tudo isso cercado de
braço. É assim que é o laço: um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece? Vai escorregando...
devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.
Ah! Então, é assim o amor, a amizade.
Tudo que é sentimento. Como um pedaço de fita.
Enrosca, segura um pouquinho, mas pode se desfazer a qualquer hora,
deixando livre as duas bandas do laço. Por isso é que se diz: laço
afetivo, laço de amizade.
E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita, sem perder nenhum
pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!

Mario Quintana

Laços



Crie laços com as pessoas que te fazem bem, que lhe parecem verdadeiras e desfaça os nós que lhe prendem àquelas que foram significativas na sua vida mas infelizmente, por vontade própria, deixaram de ser.
Nó aperta, laço enfeita... simples assim.

Silvana Duboc

Medo.




- Mas você nunca tem medo de nada!
- Eu tive hoje!
- Teve?!
- Achei que ia perder você.

(Rei Leão)

Força e fé.




“Primeira estrela que vejo, lembrei, realiza o meu desejo. Pedi sete vezes em voz alta, não havia ninguém por perto para olhar e talvez rir. Força e fé, que tinha perdido, eu pedi.”

Caio Fernando Abreu

Esperança



Incrível a habilidade que a vida ainda tem de transformar pequenos instantes em grandes momentos. Pequenas mudinhas de encontro em amigos sinceros que edificam tanto a alma da gente. Um pontinho de luz que acorda a noite. Uma voz que sussurra e que, mesmo tão distante, nos salva de tantos silêncios. Um fio resistente de esperança sustentando um bordado inteiro de sonhos. Esses abraços que, sem pedir licença, trazem encaixes perfeitos pro nosso tempo: a delicadeza atenta de quem persiste e a tão (quase) ausente paciência, que estica tanto os bons pensamentos.

Há quem tente encontrar novos milagres em territórios distantes, mas pra mim, não existe terra mais fértil que o coração da gente. Porque nos tempos de tantas lacunas e impossíveis, só mesmo as mãos de Deus para plantar tantos recomeços e mudar o rumo das tentativas.

Priscila Rodê

Lembrar com amor




Lembrar com amor é oferecer, no coração, um sorriso que se expande. É um jeito instantâneo e poderoso de prece. É um modo de abraço, não importa o aparente tamanho da distância, nem as enganosas cercas do tempo. Lembrar com amor é levar a vida, no exato instante da lembrança, ao lugar onde a outra vida está e plantar uma nova muda de ternura por lá.

Ana Jácomo

Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui



Olhando daqui, percebo que pessoas e circunstâncias tiveram um propósito maior na minha vida do que muitas vezes, no momento de cada uma, eu soube, pude, aceitei, ler. Parece-me, agora, que cada uma, no seu próprio tempo, do seu próprio modo, veio somar para que eu chegasse até aqui, embora algumas vezes, no calor da emoção da vez, eu tenha me rendido à enganosa impressão de que veio subtrair. A vida tem uma sabedoria que nem sempre alcanço, mas que eu tenho aprendido a respeitar, cada vez com mais fé e liberdade.
O tempo, de vento em vento, desmanchou o penteado arrumadinho de várias certezas que eu tinha, e algumas vezes descabelou completamente a minha alma. Mesmo que isso tenha me assustado muito aqui e ali, no somatório de tudo, foi graça, alívio e abertura. A gente não precisa de certezas estáticas. A gente precisa é aprender a manha de saber se reinventar. De se tornar manhã novíssima depois de cada longa noite escura. De duvidar até acreditar com o coração isento das crenças alheias. A gente precisa é saber criar espaço, não importa o tamanho dos apertos. A gente precisa é de um olhar fresco, que não envelhece, apesar de tudo o que já viu. É de um amor que não enruga, apesar das memórias todas na pele da alma. A gente precisa é deixar de ser sobrevivente para, finalmente, viver. A gente precisa mesmo é aprender a ser feliz a partir do único lugar onde a felicidade pode começar, florir, esparramar seus ramos, compartilhar seus frutos.
Tudo o que eu vivi me trouxe até aqui e sou grata a tudo, invariavelmente. Curvo meu coração em reverência a todos os mestres, espalhados pelos meus caminhos todos, vestidos de tantos jeitos, algumas vezes disfarçados de dor.
Eu mudei muito nos últimos anos, mais até do que já consigo notar, mas ainda não passei a acreditar em acaso*.


Ana Jácomo

Você só recebe aquilo que tem




"Você só recebe aquilo que tem, porque aquilo que você tem se torna uma força magnética, atrai algo semelhante. É como um bêbado que chega a uma cidade: logo ele vai encontrar outros bêbados. Se um jogador chegar a uma cidade, logo ele se tornará conhecido dos outros jogadores. Se um ladrão chegar a uma cidade, logo ele encontrará outros... ladrões. Se um buscador da verdade chegar à cidade, ele vai encontrar outros buscadores. Tudo que criamos em nós se torna um centro magnético, cria certo campo de energia. E nesse campo de energia as coisas começam a acontecer. Assim, se você quer as bênçãos da existência, deve criar toda a bem-aventurança de que for capaz, deve dar o máximo de si, então uma bem-aventurança multiplicada por mil será sua. Quanto mais você tiver, mais receberá. Quando esse segredo for compreendido, você ficará cada vez mais rico interiormente, sua alegria será cada vez mais profunda. E não há fim para o êxtase — você tem apenas de começar na direção certa."



[Osho - Meditações para a noite]

Pode fugir agora



" ...Eu tentei racionalizar você. Fiz minha cartilha e decorei minha fala: não tenho motivos para me apaixonar. Mas por que é que eu conseguia falar com todo mundo, menos com você? O que me impedia de ser a excêntrica de sempre? Eu mal conseguia te falar 'oi'! Não é ridículo? Nas minhas férias, deu certo, não lembrava mais o motivo de eu ter me encantado, nem estava com saudades de ficar estática perto de você. Deduzi que você me achava a pessoa mais estranha do mundo, não cumprimentando, sentando ao seu lado no ônibus e só lembrando de respirar na hora de descer no ponto... É, a garota que não fala e não respira! Eu acharia louca, esquizofrênica. Não tiro sua razão, se você achar tudo isso de mim. Pode fugir agora, porque eu tenho um potencial enorme pra te trazer dor... "

Verônica H.

...uma eternidade de delicadezas lhe caber



Quero laços com pessoas que me fazem bem, que saibam de ternuras, que entendam de perdão. Porque se a vida é mesmo esse instante, que a gente faça uma eternidade de delicadezas lhe caber. Sou eu que escolho o meu caminho. Deixo minha dor partir. E repito baixinho que quero um poema novo. Quero não, preciso!

Solange Maia

Cidade vazia



Deixei poucas pessoas conhecerem a mulher que me habita. Essa de verdade, cheia de imperfeições e desordens íntimas, mas que carrega mais ternura do que se pode imaginar. Eu e meus olhos atrevidos, minha fome de amor, e essa fragilidade engraçada de quem quer ser a protagonista de um sonho bom. Não que eu quisesse um compromisso com a eternidade, mas poucos souberam do meu corpo, das minhas marcas, das manhãs de preguiça e do rosto sem maquiagem. É que preciso acreditar para me mostrar. Porque se mostro meus medos, minhas incoerências e fraquezas, e só o que consigo é uma rasteira, fico tão desabitada. Sou uma cidade vazia. Acho que é por isso que por muito, muito pouco, fecho a porta e volto para a minha vida.

Solange Maia

Sou de partida, nunca de chegada



"...Não consigo pertencer ou me adaptar. Falha minha. Meu único planejamento é não planejar. Porque o momento em que eu sei exatamente o que fazer ou onde ir é o mesmo momento em que tento, desesperadamante, fazer o oposto. Talvez eu apenas goste de contrariar e negar o que dizem ser certo. Talvez seja coisa de menina mimada que não aceita ordens e rótulos.
Eu tenho casa, mas não tenho lar. Não me permito ficar muito tempo por onde passo, estou sempre de passagem. Minha distância, que você percebe e julga ser frieza, é apenas um mecanismo de defesa contra o que virá depois. Já me acostumei à desilusão e sua argumentação em favor do mundo não vai ajudar. Estou desiludida de mim, dos meus impulsos, das minhas incapacidades, da minha falta de sentidos, não das outras pessoas. As outras pessoas cumprem direitinho com seu papel, se esforçando pra quebrar meu gelo, algumas gostando sinceramente de mim, apesar da falta de resposta. Sou cigana, sou estrangeira, sou de partida, nunca de chegada. Sou de começo e fim, não de durante..."

Verônica H .

Só fica mais um pouco.


Desculpa, eu sei que não faz sentido te escrever agora e já faz tempo desde que esse sentido sumiu. Por minha culpa. Mas é que hoje tem tanta gente aqui e ninguém me vê... Você me viu num momento desses e é do seu olhar que eu sinto falta. Do mundo parando só pra você ser meu.
Vem me buscar, me leva pra longe daqui. No caminho de lugar nenhum eu te explico sobre minha fuga e os motivos de eu decidir voltar. Eu desisto de desistir de você. Sei que eu não posso querer você só de vez em quando, nem fazer você esperar eu me apaixonar. Só fica mais um pouco. É da sua companhia que eu preciso pra respirar agora.
Não precisa dizer nada. Seu silêncio é meu refúgio e você é minha madrugada fria de outono. Seu sorriso me aquece e nada mais faz sentido sem esses segundos que parecem horas quando estou presa nos seus olhos. Você já não pode ser o que eu quero. Porque você é mais que isso. Você é tudo o que eu queria merecer.
Desculpa, eu sei que te incomodo ligando sem parar no seu celular pra dizer nada. Mas sua voz faz a corrida maluca do meu cérebro parar. Cura minhas náuseas da angústia de não saber. E você é tão educado, tão carinhoso. Finge que não atrapalho e pergunta se pode me ligar depois - Pode sim, querido, quantas vezes quiser - Só pra eu dizer "não era nada, dá pra você vir pra cá me ver?" e você, tão sem saber como lidar com dramas femininos, diz que tenta passar depois da academia.
Eu não deixo você seguir em frente, não é? Estou sempre no seu caminho fazendo você tropeçar no passado. Esse não era o papel que eu queria, pode ter certeza. Queria fazer valer seus instantes perdidos me observando numa festa cheia e tentando entender meus enigmas. Eu sou uma decepção. Parecia tão interessante, tão cheia de luz. E agora sou essa criança que só quer agarrar você e proibir de brincar com os outros amiguinhos. Só meu, não empresto.
Não desiste de mim. Por trás de tanta indecisão tem alguém que precisa de companhia mesmo fingindo que não. Tem alguém que odeia todo mundo num segundo e chora de saudades de todos no segundo seguinte. E de você principalmente. Desculpa. Eu realmente não queria ser assim pra você.

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Meio termo me incomoda.




"Sou daqueles que aproxima ou que afasta. Sim ou não. Meio termo me incomoda. Sou daqueles que conhece a morte, mas prefere a vida. Que vive de saudade, mas se alimenta de lembranças. Sou daqueles que se reconhece finito, mas é adepto das reticências e não do ponto final. Sou daqueles que compreende que nem tudo pode ser real e que, ainda assim, preferiu trocar os sonhos, pelo eterno sonho de não perder a capacidade de sonhar."

[Eduardo Buschmann]

Pedaços




Sou feito de pedaços. Pedaços que a vida me trouxe e pedaços que a vida me levou. E, nesse quebra-cabeça monto e desmonto minha história, que tenho certeza só começa agora ou sempre no próximo segundo e no seguinte também, pois sei que uma nova vida sempre renasce a cada instante, se assim desejarmos...

Eduardo Buschmann

Privatizar



Privatize seus medos, angústias, privatize seus questionamentos... A verdade é que poucos se importam sinceramente com o que acontece com você. Eu odeio pessoas econômicas quando o assunto é ajudar. Determinadas frustrações funcionam com a definitividade exigida dos PONTOS FINAIS anunciados.

'Do Anjo Eduardo Buschmann

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Cura ?


- Tem cura, doutô?
- Apesar de todo progresso científico, minha filha, a cura ainda não foi descoberta, por isso de nada adianta resistir. A melhor coisa a ser feita é aceitar e padecer desse mal.
Seu órgão torácico elemento motor central da circulação do sangue - popularmente conhecido como coração, foi tomado por sintomas sobre os quais você não tem controle: Rebelde, acha que tem vida própria. Não consegue escutar as vozes dos órgãos maiores, mais experientes e racionais - o cérebro, por exemplo. Faz sempre tudo o que quer. Se entrega a outro coração com cada artéria que se contrai em seu corpo. Sente com todo miocárdio. Em cada batida revela-se absolutamente intolerante à razão.
Infelizmente, é isso: Há um coração apaixonado morando aí, e você não manda mais nele.

Ayanne Sobral

Saudade que nunca vai passar


"Tive que aprender, na marra, a lidar com a saudade que nunca vai passar. A saudade de quem foi embora pra sempre (...) Se eu soubesse que aquela seria a última vez que eu fosse te ver, teria te abraçado mais forte (...) Pra lembrar do seu sorriso ingênuo (...) Quando você foi embora, levou junto parte da minha história. Mas eu tenho minha máquina do tempo. E o que me faz voltar ao passado são minhas lembranças. Lembranças de um tempo que não volta nunca mais. Espero que Deus esteja cuidando de você direitinho, porque eu ainda tenho vários casos pra te contar. Por enquanto, é só saudade." [Brena Braz] Para Eduardo Buschmann


Dedicado ao meu avô Francisco, que me deixou pra sempre. Te amo vô. :(

Faça-se insubstituível.


(..)Faça-me acreditar sempre em nós. Faça-se insubstituível. Encontre teus pés nos meus quando estivermos deitados e cúmplices no nosso silêncio. Prometo acariciar teus cabelos até que finalmente mergulhes nos sonhos. Serei fiel. Presenteei-me com teu respeito. Se de algum modo te dou minha juventude, desejo que igualmente aceites minha velhice.Tenho medos, inseguranças, horas de raiva e deleite. Tenho valores por muitos julgados ultrapassados, mas ao teu lado serei "eu" sem vestes que não me pertencem ou como fantoche de uma realidade inquisitorial. Não sou o melhor, mas acordo todos os dias com o propósito de sê-lo. (..)"
Eduardo Buschmann

Nuvens



Ele perguntou:
_Por que esse sorriso nublado?
Ela elevou os olhos e respondeu:
_Há nuvens em meu coração, não consigo ver o sol.
_Vem cá, encosta aqui.
E ele a abrigou em seu peito.
E se dissiparam as nuvens.
E ela voltou a sorrir.

Erica de Paula

Molhado demais estraga.



" ... Sinto certa falta do doce que você trazia aos meus dias, mas gosto desse meu ácido. Gosto também dessa secura que são as horas sem você, (ah menino, tu tens que aprender que molhado demais estraga). Do meu gelo tu sabes bem que sempre gostei, embora me derreter em você fosse tão bom..."


Mírian Clara

Bar




- Oi – Sorriso
- Oi – Suspiro
Uma cadeira arrastada. Vidro batendo sobre o mármore. Palavras polidas, sem delicadezas.
- Fazia tempo que eu não te via aqui
- É, fazia tempo que eu não vinha aqui – Ela olhou para os lados, os olhares conhecidos sorrindo. Forçou a simpatia, talvez o melhor fosse ir a outro lugar. Virou-se para ele. Aquele sorriso ainda não tinha se desmanchado.
- É – ele desviou os olhos dos dela – e por que sumiu?
- Só precisava de uma mudança de ares sabe...
- Ah, sério?
- Sim.
- Oh, por favor, eu te conheço bem o suficiente pra saber que mudança de ares pra você é mudar de país ou planeta, não de bar.
- Bem, eu não tenho tido muito tempo para sair nos últimos meses. É só isso.
- Também não tem tempo para atender ao telefone, responder emails, torpedos e recados?
- Não. Não tenho.
- E onde você se enterrou nos últimos 3 meses?
- No lugar de sempre.
- E não teve tempo pra atender a campainha também?
- Bem, ela quebrou.
- Quebrou?
- Ok, eu a quebrei.
- E não se importou de consertar?
- Não tive tempo para isso também.
- Pelo visto você não tem tido tempo para nada.
- É. Nem para ninguém.
Ele não desistiria do sorriso. Por mais mal educada que ela fosse. Ele sabia que ela tinha voltado por algo. E ele desejava que toda aquela polidez sem educação alguma fosse simplesmente proteção. Coração partido. Dor. Saudade. Mas ele não podia ter certeza. Não com ela.
Porque ela preferia jogar o celular ligado de baixo da cama e ficar escutando a música que tocava só quando ele ligava, para saber que ele estava ligando, que de algum modo ele se importava com algo, ela não desligaria nunca o celular, ela deixaria lá sempre. Ela queria ouvi-lo tocar mil vezes. Queria deixar lá, estampado na tela, todas as ligações perdidas, todas as mensagens que ela não leria até ter certeza de que agüentaria o tranco. Ela preferia deixar seu email lotado com mensagens que ela não leria por pura falta de coragem do que bloqueá-lo. Ela preferia o ouvir gritando e batendo na porta ao menos uma vez por semana quando ela voltava para casa à noite do que abrir e gritar com ele mandando-o embora de uma vez. Ela queria a presença segura dele mesmo sabendo que machucava, ela o queria. Demais. Ela precisava dele. Precisava sempre saber que ele se importava com a droga do coração partido dela. O coração com o qual ela não se importava. O coração que ele partira. Mas ela não tinha coragem de abrir a porta e ouvir o que ele tinha para dizer. Ela não estava pronta para pedidos de desculpas ou brigas. Ela tinha medo de atender ao telefone e começar a chorar como uma tola. Ela não queria ser a fraca. Ela nunca o foi. Ele era. Ela não queria ser agora. Mas ela estava sendo. Tinha consciência disso quando via todos os torpedos não lidos no seu celular. E ela não os leria porque sabia que havia ali mil pedidos e convites. Fazia o mesmo com os emails. Mas não tinha coragem de apagar nenhum deles. Ela sentir-se-ia melhor um dia. Voltaria a sentir-se forte. E nesse dia ela leria tudo.
E foi o que aconteceu naquele dia. Ela tinha lido todas as mensagens. Tinha passado um dia todo dividida entre o computador e o celular. Lendo e relendo mil pedidos de desculpas, convites para jantares, expressões de raiva, mais pedidos de desculpa, mais convites, avisos de visitas, pedidos para abrir a porta... Havia tanta coisa. Havia tanto dele. E ela quase desmoronou. E quando terminou ela não queria sentir mais aquilo tudo. Ela não queria sentir. E deixando o seu subconsciente comandar ela acabou ali, no balcão já conhecido de mármore branco. Diante de um barman que antigamente a adorava e conhecia todos os seus tolos gostos. Com as olheiras cobertas pela maquiagem pesada e enfiada em um vestido curto e preto, que há muito estava abandonado no fundo do armário. No maior salto que tinha. Tentando parecer forte. Tentando parecer outra vez ela. A ela que existia antes dele aparecer.
- Mas se está aqui agora, imagino que tenha achado tempo para algo...
- É. Estava me reorganizando. E resolvi voltar para o meu modo antigo. Então, aqui estou.
O barman reapareceu para encher os copos vazios. Ela sorriu para ele. Aquele sorriso de antes, intimo, convidativo, caloroso, sem na verdade ser nada disso.
- Você enfim voltou. – o barman disse, voltando-se para começar a preparar a bebida que ele preparava só para ela.
Ela levantou os olhos pintados de preto. Balançou os cachos loiros.
- Sim. Sentiu minha falta?
Ela tinha consciência do corpo ‘dele’ rígido e incomodado ao seu lado. Como sempre desde que o conhecera. Ele não gostava do jeito dela, de flertar com todos, mesmo que não tivesse interesse algum em nenhum deles. Desde que colocara os olhos nela ele a considerava dele. Não queria vê-la flertar com um barman que muito bem sabia que ela não iria querer nada com ele, mas que ficava esplêndido em vê-la sorrindo daquele jeito enquanto ele lhe preparava uma bebida que nem existia no cardápio do bar. Ela era dele. Somente dele. Por que deveria flertar com todos e tudo? E ela nunca, nunca mesmo flertara com ele. Ele nunca ganhara um sorriso como aquele que ela dava para os outros. O sorriso com o qual ela conquistava todo seu maldito mundo. O sorriso com qual, sem nem sequer saber, ela o havia conquistado. Mas apesar de não gostar de tudo isso ele sabia que tinha ganhado a melhor parte dela. A parte de verdade. Sem olhos e sorrisos pintados, bebidas ou saltos altíssimos. E ele tinha estragado tudo. Ele partira seu coração dolorido. Ele partira o que ela tivera tanto trabalho para colar. E ele sabia disso. E sabia que ela estava de novo do modo que ele a encontrara há tanto tempo. E agora ele não sabia se seria capaz de vencer toda a fortaleza de gelo que envolvia seu coração. E ele arrependia-se tanto de tudo aquilo. Engraçado como pequenos erros fazem um incrível estrago. E foi perdido em tantos pensamentos sobre a que ele sempre chamara de ‘sua menina’ que ele respondeu a pergunta que fora dirigida ao barman. Que ele a pegou por alguns instantes de guarda baixa e viu um deslumbre da menina nos olhos pintados. Foi quando ele disse o ‘sim, senti muito a sua falta. ’ Ele teve certeza de que a tinha perdido. E quando completou com um ‘e ainda sinto. ’ Ele soube que ainda poderia recuperá-la.
O barman sorriu sem graça e saiu dali com a desculpa de pegar as frutas que faltavam para a bebida dela. Ela assentiu e sorriu. Por algum milagre da tal força recém adquirida ela conseguiu recuperar-se rápido do golpe que ele lhe dera com aquela resposta.
- Você sabe, - ela pintou o sorriso de novo no rosto, não o mesmo sorriso dado para o garçom, um sorriso amarelo, daqueles dados somente por educação a alguém que não conhecemos bem. – não é muito educado ouvir a conversa dos outros. Quem dirá responder perguntas que não lhe foram direcionada. Isso não é do seu feitio.
Ela forçou-se a olhá-lo nos olhos, mas como não o conseguia de verdade sem revelar tudo que sua maquiagem tentava esconder ela apenas o fingia fazer. Fitava os olhos escuros dele sem realmente ver algo dentro deles, sem focar-se por nenhum segundo. Ele já tinha visto o bastante com o pequeno susto dela. Era possível ver com aquele sorriso que ele dava. O sorriso dela, para ela.
- Desculpe-me a falta de educação então. Não estava muito atento. Pensei que você estava me perguntando. – ele mentiu. Mal. Mas mesmo assim mentiu. Não diria a verdade enquanto ela não olhasse nos seus olhos pra valer.
- Você mente mal.
- Você também.
- Melhor que você.
- É. Eu sei.
- Então por que está tentando mentir para mim?
- Por que você está fazendo o mesmo?
O silêncio tomou conta dos dois. O barman voltou e serviu a bebida colorida dela. Ele recusou-se a olhar, mirando a pista de dança. Mas mesmo assim foi capaz de ver um pequeno raio fugitivo do sorriso dela.
O barman saiu. Ela levantou-se. Era incrível como atraia tantos olhares. Homens, mulheres, o que fosse. Ela tinha algo naquele sorriso falso que atraía o mundo.
- Vou dançar. – ela disse tomando um gole da bebida e indo em direção a pista de dança. – Você não vem? – ela parou e olhou para trás. Ele se assustou um pouco. Não entendia o novo jogo dela. Bem, isso nem ela entendia. Estava só seguindo o novo script que se desenrolava aos poucos em sua mente. E o script avisava que ela devia sorrir para ele. Mas não o sorriso de verdade que ela sempre lhe dava, desde a primeira vez que ela o viu. Ela deveria sorrir o sorriso falso, aquele que era tudo e nada ao mesmo tempo. O script dizia que era hora de tratá-lo como mais um ao invés de único. Que ela devia flertar e não flertar com ele, como ela fazia com todos. E quando ela estampou o sorriso no rosto soube que aquilo de algum modo daria um resultado que ela não tinha idéia se queria. Porque por mais que ele a conhecesse, como ninguém nunca tinha conhecido, ele não era imune ao sorriso falso, olhos pintados, saltos altos e flerte inútil. Ele era realmente mais um. E ele levantou-se.
Não entendia porque o tinha feito. Ouviu o convite e antes mesmo que seu consciente pudesse processar a informação ele já estava seguindo-a. Era esse o efeito daquele sorriso combinado com o vestido preto e os cachos loiros sempre balançando como uma aura angelical em torno dela? Aquilo era especialmente estranho, mas de repente partir aquele pequeno coração pareceu valer um pouco à pena. E então ele terminou de processar as informações e foi atingido pela compreensão. Ele partira aquele coração que já fora remendado antes. Fora sem querer, mas diabos, ele o havia partido. E ela o tinha ignorado por três meses. Três terríveis meses para os dois. Ou quatro, se você contar os corações. E será muito maior o número se contar os pedaços em que eles foram divididos. E depois de tanto ignorar ela havia aparecido no bar. No bar que ele dizia que iria toda noite até ela aparecer. E ele tinha mandado emails e torpedos avisando ela sobre isso. Ele tinha deixado mensagens na caixa postal dela dizendo isso. Ele tinha gritado isso na sua porta. E era isso que ela estava fazendo aqui hoje. Ela tinha resolvido que iria escutá-lo? Ou será que queria mostrá-lo o quão forte ela estava? Queria mostrar que dentro do maldito mundo incrível dela onde, mesmo que sem querer tudo girava ao redor dela, ela estava bem? O que diabos ela queria? Ele queria saber. Mas ela nem sequer imaginava o que queria quando, depois de ler todas as mensagens, escutar todos os recados, lembrar de todos os avisos, convites e pedidos que ele fizera a sua porta, ela foi parar naquele bar. A parte em que ela decidira que se arrumaria e ia lá encontrá-lo era um borrão em sua cabeça. Ela realmente havia decidido aquilo?
Não, ela não tinha decidido nada. Ela deixou-se levar pelo que quer que fosse. E quando acordou do transe estava lá, ao lado dele diante do balcão de sempre. E agora ela sentia vontade de dançar. Como nunca. Queria descarregar tudo nas batidas da música. Nos movimentos do seu corpo. Diante de todos aqueles que a conheciam de sempre, mas que na verdade nunca a conheceram.
Eles estavam no meio da pista de dança, na parte um pouco mais elevada onde ela adorava dançar. Onde todos paravam para admirá-la.
- Segure para mim. – ela entregou o copo para ele. Ele já sabia o que ela faria agora. Aquela mágica de subir no pequeno palco. Sabem aqueles ‘queijos’ de boate, e fazer todos olharem para ela. E fazer todos sorrirem, e por incrível que pareça ela não seria chamada de qualquer coisa que não fosse linda ou simpática. Era isso que ela era. Ela podia flertar com todos ali, mas ela nunca seria oferecida. Ela não flertava buscando um par para aquela noite, ela flertava sem querer, e com todos mesmo, ela conquistava todos, homens e mulheres. Fosse qual fosse o gosto deles. Ele já havia dito que ela tinha o dom para política.
E quando ela começava a dançar, quando o corpo dela começava a soltar-se no ritmo da música, todos pareciam parar para vê-la. E paravam mesmo. Para então começar a dançar com ela, a sentir com ela. E vendo-a ali, sorrindo, girando, como se nada tivesse acontecido, como se fosse a primeira vez que ele a viu, ele sentia que a queria de volta. Mas não aquela mulher do sorriso falso. Ele queria a sua menina. Ele queria poder brigar quando ela flertasse com o mundo. Ele queria tê-la. De novo, de novo e de novo. Como era. Porque depois de tê-la conhecido tudo era diferente. E agora ele queria ajudá-la a curar o coração que ele havia quebrado. E sem pensar muito ele se viu entregando o copo para a pessoa mais próxima, chegando mais perto dela e pegando-a no colo. Ouvia os risos. Já tinha feito isso antes. Ela tentou protestar, mas passara a noite toda evitando o toque dele, e agora se sentia uma confusão. Parecia impossível formular frases. E enquanto ele seguia o instinto maluco de levá-la embora dali, de seguir o script maluco que ela estava seguindo, ele percebia o quanto precisava dela, o quanto ela era dele. Sem querer. Do mesmo modo que ela fazia com o flerte. Ela doava-se para ele sem nem sequer perceber. E isso também acontecia com ele. Ele era dela. Totalmente. Irrevogavelmente. E ele não queria ser devolvido nem tampouco queria devolve-la. Eles seriam um do outro. Dariam um jeito em tudo que haviam quebrado. De corações a campainhas. Por que agora ele conseguia entender porque ela voltará. E ela também entendia porque tinha ido parar ali, sabendo que o encontraria. Porque afinal, era isso que os dois queriam. Ter um ao outro novamente. Não queriam perder. Isso não era do feitio deles. E eles se pertenciam. E seria assim, mesmo sem querer.


Mírian Clara

Desestereótipo




Desde que o mundo é mundo, nós mulheres tentamos entender os homens. Tentamos minimizar as diferenças descobrindo o que se passa na cabeça desses outros seres tão diferentes da gente. Na maioria das vezes, caímos em estereótipos do tipo “homem é assim”, “mulher é assado” e limitamos toda a humanidade dentro das nossas próprias percepções do mundo. Como se nossa percepção fosse única e absoluta.

Eu ando treinando o “desestereótipo”. Treinando ver o mundo de outra forma. Explico: não é porque eu comi uma maçã podre do pacote que todas estão podres (como eu achava até então). Ando tentando ouvir com menos atenção os casos corriqueiros de homens cafajestes e dando mais importância aos raros casos de homens do bem. Sim, eles existem. E quando minhas amigas começam com “ah, é porque homem é assim mesmo” eu ligo o mute interno e começo a pensar na lista de maquiagens que quero adquirir no momento. Não, gente, homem não é “assim mesmo” e eu cansei de engolir esse papo. Tem mulher pirigueti, tem mulher do bem. Tem homem babaca e tem homem do bem. É exceção? Pode ser. Mas existe. O grande lance é que não dá pra julgar por antecipação. Aquele cidadão bom moço pode te decepcionar e aquele outro que você não dava nada por ele pode te surpreender.

E enquanto nós, mulheres, não entendemos os homens (e nem eles entendem a gente), acho que deveríamos ser mais claras no que queremos, ao invés de fazer joguinho. Grande parte dos homens não tem criatividade ou sequer paciência pra ficar decifrando nossos códigos. Ao contrário da gente que acha que tudo que eles falam são códigos secretos e querem dizer muito mais do que o que foi dito. (Eu já superei essa fase da interpretação faz tempo, mas tenho amiga que interpreta cada palavra que o cidadão fala).

Ainda vamos demorar pra decifrar o que os homens querem. Mas entender o que nós queremos não é nem um pouco complicado se eles prestarem atenção. Não queremos anel de brilhante. Um anelzinho de papel de bala feito na hora resolve nosso problema. Não queremos dormir num palácio, só queremos deitar a cabeça num ombro que nos acolha. Não queremos a presença física o tempo todo, mas queremos saber com quem podemos contar se precisarmos. Não queremos a senha do email, mas queremos alguém em quem possamos confiar de verdade. Não queremos vigiar o celular, mas queremos alguém que não nos surpreenda com telefonemas suspeitos. Queremos alguém com quem possamos passar nosso aniversário. Passar o Natal. O reveillon. A vida. Queremos alguém que nos inclua nos planos, ainda que esse plano seja apenas a comemoração de alguma coisa banal. Queremos alguém pra quem não tenhamos que contar nada, pois esse alguém simplesmente sabe porque faz parte da nossa vida. Queremos alguém cuja prioridade é a própria vida, porém a própria vida nos inclui. O que nós, mulheres, queremos é tão simples que esse texto nem precisaria existir pra explicar isso. Tão simples que parece tão óbvio. Mas não é. Ainda existem homens que ignoram o básico. Alguns. Não são todos. Porque, como eu estava dizendo, os homens não são todos iguais.

Brena Braz

Lá na frente, tudo se explica.



"Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica. Por isso, faço a minha sorte. Sou fiel ao que sinto. Aceito feliz quem eu sou. Não acho graça em quem não acha graça. Acho chato quem não se contradiz. Às vezes desejo mal. Sou humana. Sou quase normal. Não ligo se gostarem de mim em partes. Mas desejo que eu me aceite por inteira. Não sou perfeita, não s...ou previsível. Sou uma louca. Admiro grandes qualidades. Mas gosto mesmo dos pequenos defeitos. São eles que nos fazem grande. Que nos fazem fortes. Que nos fazem acordar. Acho bonito quem tem orgulho de ser gente. Porque não é nada fácil, eu sei. Por isso continuo princesa. Continuo guerreira. Continuo na lua. Continuo na luta. No meio do caos que anda o mundo, aceitar é ser FELIZ."

Fernanda Mello

Sabe do que tenho saudade?


'Sabe do que tenho saudade? De quando a gente se enfia debaixo do cobertor. Fico abismado como pode a terra ter tanta pirâmide, tanta fábrica de cerveja, tanto estádio de futebol coberto, tanta ilha nudista, tanto vulcão, e tudo que é legal se resumir debaixo da penugem de um cobertor quadriculado, mordendo seu queixo, te incomodando com beliscões, brincando de vulcões íntimo-particulares com aquele meu ar de sabichão, se é que me entende. Entende, entende.Sabe do que sinto saudade? De quando a gente briga feio. Caraca, e sequer consigo lembrar agora um motivo importante para tal (…)

Gabito Nunes