terça-feira, 1 de novembro de 2011
Campo minado
Eu sabia que aquilo era campo minado, mesmo assim quis espiar. Tinha algo por trás daquelas cercas de arame farpado que me roubavam toda atenção. Eu não sei se era a timidez dos meus olhos, ou se aquelas cercas eram parte de mim. A minha parte que espeta, que dá choque, por ser tão inutilmente elétrica, tão absurdamente na defensiva de me proteger do mundo. Ou eu queria me proteger de mim? Ou de alguém que cisma em me roubar por dentro, alguém que não é meu, mas que consome cada segundo das minhas horas tão delicadamente que dá vontade de me esquecer do mundo, ainda que virtualmente, ainda que por essa tal da telepatia, esse aconchego quase de verdade, que por ser tão invisivel se faz perfeito. Talvez seja isso, essa distância, essa cerca que nos separa, esse arame que nos deixa tão cheios de vontade de chegar perto, de pular, mas que nos enche de medo de se machucar. É tranquilo do lado de cá da cerca, então, porquê ir pro lado de lá? Porque o lado de lá, é escuro mesmo esbanjando tanta luz acolhedora, o lado de lá, é quente e eu prefiro ficar na frieza dessa minha embalagem de aço. Ficar no conforto da minha certeza incerteza, porque já passou meu tempo de arriscar. Prefiro a segurança dos pés no chão do que um vôo mal feito. Eu até arriscaria um pouso forçado nessa minha quase verdade de mentira. Arriscaria uma queda, ou algum outro tombo. Mas a tal da insegurança é tão categória, quando afirma me olhando assim ao meio. — Sua fraca. E eu me vejo repetindo isso de frente ao espelho e espanto as lágrimas que se acumulam, porque eu não devo chorar por uma escolha minha. Eu lamento a queda mesmo sem ter voado. Eu caí antes de bater as asas...
Eduardo Monteiro e Ju Fuzetto
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário