segunda-feira, 13 de junho de 2011

Amar bonito.






Talvez seja tão simples, tolo e natural
que você nunca tenha parado para pensar:
aprenda a fazer bonito o seu amor.

Ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil que ninguém aceita aprender.

Tenho visto muito amor por aí, amores mesmo, bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva,
mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos,
belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.

Aí esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de
repente se percebem ameaçados apenas e tão somente porque não
sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam
mais do que atendem; enchem-se de razões. Sim, de razões.

Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar,
de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar
que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no
qual não possa ter razão - nem queira. Ter razão é um perigo: em geral
enfeia o amor, pois é invocado com justiça, mas na hora errada.

Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito?

De que está tirando do gesto, da ação, da reação, do olhar, da saudade,
da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não. Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo
que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse
pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando
ele pode trazer.

Quem espera mais do que isso sofre,
e sofrendo deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa de ser alegre, igual criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo. Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.

Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos;
ser pego em flagrante gostando;
não se cansar de olhar, e olhar;
não atrapalhar a convivência com teorizações;
adiar sempre, se possível com beijos,
"aquela conversa importante que precisamos ter";
arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção
pode ser toda atenção possível.

Quem ama bonito não gasta o tempo
dessa atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós,
pobres escritores que vemos a vida como criança
de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos
dos nossos sonhos): não teorize sobre o amor, ame.

Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme,
como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer
(sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração;
contar a verdade do tamanho do amor que sente.

Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas,
golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes
(não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge
de sua emoção e carência, exatamente aquele você
que a vida impede de ser.

Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando besteiras, mas criando sempre. Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater como no tempo do Natal infantil.
Revivendo os carinhos que instruiu em criança.
Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito,
ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo seu amor,
ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases
não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira
expressão de tudo o que você é e nunca deixaram,
conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.

Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma.
Cuide da voz. Cuide da fala. Cuide do cuidado.
Cuide do carinho. Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor
e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.


Arthur da Távola

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